sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Only your friends know your secrets...



A minha geração nasceu e cresceu em clima de guerra. Lembro que na nossa infância o barulho de disparos ao longe (mas não tão longe) eram muito frequentes, todas as noites.
Com menos de 10 anos peguei pela primeira vez uma AK-47, a arma da revolução social. Parecia pesada, hoje sei que naquela guerra, milhares de crianças da minha idade na altura, combatiam, morriam.
Aprendi a manipular e a disparar muito cedo.
Crescemos assim. Algumas vezes penso que foi mau, outras vezes penso que foi bom, mas na maioria das vezes convenço-me que poderia ser pior.
Hoje estive conversando com alguém, e logo depois fiquei com a impressão que não poderia ser pior... Oh gente com mentalidade tão mesquinha.
Parece que crescemos pensando que nossos vizinhos eram nossos melhores amigos, nossos familiares e ao mesmo tempo nossos maiores inimigos.
Tenho visto que pra muitos compatriotas, a mulher do outro é a mais bonita. E é também a mais livre, porque fazem questão de dar em cima como se estivessem apaixonados e depois olharem para os amigos e trocarem abraços, carinhosamente.
Também tenho visto alguns a falarem mal de supostos amigos, com furor e odio nas palavras.
Alguns colegas em pleno teste na faculdade, ensinando errado uma quesstão pra os amigos, pra eles se ferrarem.
O que mais me surpreende é a capacidade de julgar os outros. Parece que o erro está sempre ligado ao ser o outro a fazer e não a ação em si.
Se eu fizer é normal, ou no pior dos casos, algo necessário, que precisava ser feito.
Deixa o outro fazer... kkkkkkk
Meu irmão sempre diz que a familia e os amigos é que te lixam... É incrivel, mas em Angola essa é a verdade.
Gonçalo Lacerda.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Caiu um Rei.



O Presidente Egipcio foi derrubado do poder.
Após 3 décadas, o Povo sugeriu forçosamente o abandono do poder, e Mubarak cedeu.
O Egipto deu uma grande lição.
Lembro-me de quando pequeno estudar de baixo de uma grande arvore, sentado numa lata de leite vazia, a muito inutilizada. Os dias de chuva eram uma festa, não havia aulas.
Lembro de alguns anos depois ter ganho uma sala de aulas mais digna, com varias carteiras. Lembro tambem de nessa epoca partilhar a carteira com mais um ou dois colegas, porque eramos muitos.
Lembro de não ter passado no vestibular para ingressar na universidade e de ter me perguntado muitas vezes o que fazer, nesse periodo que se seguiu.
Mudei-me para Luanda e tive de me adaptar aos engarrafamentos, as longas distancias, aos calores e aos mosquitos. Por muitos anos Luanda foi a unica provincia capaz de proporcionar a realização dos sonhos, então como muitos outros jovens, em 2005 mudei-me pra Capital.
A vida em Luanda não é facil, alias é estremamente complicada.
Um dia fui assaltado em pleno dia ali na avenida brasil, aos olhos de Deus e de alguns espectadores, levaram meu nokia, deixaram-me com o chip. Deixaram-me também 100,00Kzs para pegar o candongueiro até o Benfica.
Até 2006 minha vida sempre foi Angola, essa sempre foi minha realidade. E minha pequenez sempre me fez olhar as debilidades que Angola entrenta como naturais, normais.
Foi preciso pouco mais de 1 semana fora de Angola para perceber que as pessoas têm direitos, e que o Governo tem obrigações e não o contrario.
Então me pergunto: e se o Povo Angolano se levantar como um só e pedir mudanças?
Nosso Presidente também está a mais de 3 decadas no poder. E o Povo continua privado, privado e abonado.
Porque falta água, mas não falta cerveja. Faltam escolas, universidades e bibliotecas mas não faltam cantinas ou discotecas.
O Povo até demora, mas um dia acorda.
E ai um rei cai.