quarta-feira, 9 de junho de 2010

Somos o que compartilhamos...


‘’NUNCA GOSTEI DE PEDIR AJUDA. Desde muito pequena, eu fiz tudo sozinha tudo o que pude, fosse a lição de casa, cortar o bife ou me arrumar para o aniversário. Aprendi em algum lugar a palavra ‘’auto-suficiência’’ (vai saber onde) e dizia que era isso que eu queria ser quando crescesse: nunca precisar de ninguém para nada.
Tinha uns 8 anos quando minha mãe me levou a uma psicóloga, preocupada com que isso não fosse coisa de criança. A moça a tranqüilizou: era só meu jeito. E continuou mesmo a ser por muito tempo. Detestava os trabalhos em grupo e os esportes coletivos. Se, para felicidade da classe, a professora deixava responder a prova em dupla, eu pedia pra fazer sozinha. Eu tinha uma boa turma de amigos – que dura até hoje – mas preferia mesmo era contar comigo: as pessoas eu desconfiava, sempre davam muito trabalho ou me deixavam na mão. Metida, eu achava que as coisas sempre saiam melhores (ainda que custasse muito mais) se resolvesse do meu jeito.
Precisei ficar sozinha de verdade para entender o quanto estava enganada. Foi quando a minha filha nasceu, e eu me vi mãe solteira e de primeira viagem, mal tendo completado 18 anos, em uma cidade onde não tinha família nem conhecia ninguém. Entre trabalhar e estudar, cuidar de criança e casa, percebi a duras penas que não conseguia fazer tudo sozinha. E, por ter resistido tanto tempo, nem mesmo sabia como pedir ajuda.
E ai surgiram elas. Quatro amigas de faculdade, que não só roubaram meu orgulho besta sem me pedir licença, como também mudaram a minha vida – e, para ser sincera, salvaram-me de mim mesma.
A Ana me conheceu ainda grávida e amarrou meus sapatos quando minha barriga estava tão grande que eu já não enxergava os pés. Enquanto a turma de calouros marava a noite em festas, ela se mudou para minha casa para me acompanhar na aventura de cuidar de um bebê. Nas festas da escolinha e reuniões de pais, era meu par: amigos são família também.
A Camila veio depois. Moramos juntas por anos, na época da faculdade e depois, quando mudamos para São Paulo. Dividimos o teto, a vida e tudo o mais: o dinheiro, os trabalhos da faculdade, as roupas, os segredos do coração, os problemas mais escabrosos e até a educação da minha filha. Nossos assuntos nunca tinham fim.
Já a Carol foi a melhor babá do Mundo para que eu pudesse assistir as aulas de noite. Ela saia do outro lado da cidade para dar carona nos dias de chuva, me deu seu lugar numa bolsa da faculdade e nos levou para sua casa, garantindo almoços de domingo incríveis, quando não tínhamos grana nem para um miojo...
Elas fizeram mais por mim do que eu jamais poderei retribuir. E, porque estávamos juntas, fiz mais do que jamais teria conseguido sozinha.
Por causa delas, entendi que pedir ajuda, ou trabalhar em grupo não me torna mais fraca. Ao contrário: só amparada tenho força (e mãos, idéias, apoio, confiança) para realizar o que preciso. Antes, eu pensava que corajoso era quem se resolvia por si mesmo. Que grande bobagem: coragem tem quem dá a mão para pular junto.
E essa descoberta tem moldado meu mundo desde então... Na verdade não sou nada sozinha. São as companhias que me tornam melhor – e despertam o que tenho de melhor’’.

Roberta Faria
Editora chefe da revista SORRIA

Não pude deixar de homenagear essa excelente narrativa sobre o papel da amizade e dos amigos em nossa vida. A Roberta está de parabéns pela linda maneira como expos sua experiência ao longo dos anos.

PS: Por favor comprem sempre a revista SORRIA, o valor arrecadado vai para o apoio a doentes com cancer (100%)

Gonçalo Lacerda

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