quinta-feira, 27 de maio de 2010

O Cêu está aberto pra todo Mundo!!!


Entre os meus irmãos mais velhos, usar a cabeça rapada sempre foi uma tradição. Desde muito cedo aprendi a cortar o cabelo deles e fazia-o com muita dedicação. Olhava pra aquela careca com muita admiração: Meu irmão Mimi sempre foi um ídolo pra mim. Aquela careca tinha status, toda semana cortava o cabelo dele com um prazer enorme, sentia que ajudava ele a ser melhor... E ele era o melhor!Foram muito poucas as vezes que eu me aventurei a tal viagem, fazia a décima classe quando rapei o cabelo pela primeira vez, e como esperado, foi um desastre! As minhas orelhas eram demasiado saídas, uns autênticos abanos! Abanos do Grande Hotel como dizia a Vânia. Todas as pessoas que passavam por mim faziam o favor de olhar, e os seus olhos diziam tudo: Orelhão! É, mas só pra confirmar, havia aquelas que me diziam mesmo: “Ooo”, “mas o que fizeste?” “Está muito feio”. E por ai.Nenhuma das aventuras foi tão dolorosa pro meu ego, como a que tentei no meu segundo ano da faculdade, a rapariga olhou pra mim e riu! Riu muito mesmo! E eu ouvi... ORELHÃO! Rendi-me, cabeça rapada não era pra mim, assim como não era os céus para um peixe, ou o mar para um pássaro.Já faz algum tempo que fui operado a cabeça, e por mais simples que seja um problema na cabeça é sempre um problema. Um dia depois de sair do bloco operatório estava deitado na cama, ainda meio dopado por causa dos medicamentos quando comecei a ter uma convulsão. Vi minha voz a se ir, o ar começou a escassear, o meu corpo a tremer fortemente, tudo muito rápido, mas eu via isso calmamente, os gritos eram internos, como num pesadelo, até que a luz se apagou. Tive os meus segundos... Os segundos que nos fazem perceber o quão é frágil à linha entre a vida e a morte.Acordei um pouquinho diferente. Queria muito ir a um cabeleireiro. Já faz pouco mais de um mês e toda semana corto o cabelo. A sensação é muito agradável, fico o melhor... Sinto-me o melhor! Não entendi bem, mas de repente as pessoas olham pra mim dum jeito interessante. Vejo-me lindo, mas, o que é melhor, vejo que elas me vêem lindo! Não entendi direito o porquê dessa mudança até ver um gatinho se olhar no espelho e enxergar um leão. Ouvi uma pessoa a fazer a seguinte pergunta: “... E o que te fez ligar para tua Sharon Stones?”. Não era a Sharon! E mais, aquela pessoa estava mais pra Quasimodo, O corcunda de Notre Damme. Mas o sorriso dela, a sua confiança, a sua visão de si mesma era de uma Sharon!Fez-me pensar: a beleza, assim como uma boa jogada de poker, não se define pelo que tu realmente tens mais pelo que tu fazes as pessoas perceberem que tens. Então, um leão no mundo da beleza passa fácil por um gatinho se ele se vir assim tão pequeno e um gatinho faz tanto sucesso como um leão, se ele se vir e passar essa certeza para os outros. Então percebi que não eram as minhas orelhas, muito menos as outras pessoas, era eu! Eu é que era um patinho feio por dentro, e muito antes que as pessoas me dissessem eu mesmo o dizia, dizia bem fundo, ORELHÃO.
Gonçalo Lacerda

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